sexta-feira, novembro 26, 2010

ENTREVISTA-César Pereira Trajano- Parte 1







 PARTE 1- Como tudo começou-

 Preliminar: Finalmente vou conseguir postar a primeira entrevista da “série folhas no tempo”, de acordo com minha proposta, lá de junho(ver post dia 03/06). Escolhi o meu ex-colega e amigo, César, para dar início a esta iniciativa que, antes de qualquer coisa, é também uma homenagem às pessoas que são tão importantes na nossa vida. Como ficou extensa e muito interessante, dividi em 4 partes, também, para fazer um pouco de suspense e ensejar o hábito das visitas dos meus caros leitores

Bons momentos de amizade desde 2006.


Conheci o césar na faculdade. Ele sentava lá no fundo da sala, chegou no segundo semestre e se enturmou com o pessoal de lá. Só depois de algum tempo, após alguns trabalhos em grupo o César apareceu no meu grupo, que eram sempre os mesmos. Logo depois de um trabalho em que ele se destacou bastante, deixando evidente o jeito descontraído, divertido e,  principalmente, inteligente, de interagir com os colegas e com o contexto das disciplinas, foi que passei a admirá-lo. Aos poucos fomos nos tornando amigos. Foi com o César que aprendi, entre outras, duas das coisas mais importantes da vida: A esperança e a perseverança. Lembro de quando sorteávamos um tema para algum trabalho e não tínhamos a mínima idéia de onde começar, o César sempre dizia: “ -Calma, eu também não sei onde achar isso, mas em algum lugar deve ter.” E assim íamos atrás do assunto, na biblioteca, na internet, enfim, saíamos a procurar e acabava que nossos trabalhos eram sempre excelentes. Depois fizemos algumas oficinas juntos por ocasião dos estágios e nosso entrosamento só aumentou. Começamos  a voltar da faculdade todos os dias juntos e, muitas vezes, quando um não ia o outro também não ia. Foi um tempo muito legal.Sofríamos as desventuras das disciplinas, dos conteúdos e das vésperas de provas. Por inúmeras vezes estivemos , ambos, prestes a trocar de curso ou a desistir(eu principalmente). Andávamos nos corredores, deprimidos, apavorados. Conversávamos no intervalo, no cafezinho, no bar e nos dávamos forças mútuas. Era engraçado, porque quando alguém via um de nós sozinho, logo perguntava pelo outro. Viramos referência mútua. Muita gente, às más línguas de preferência, julgavam que éramos casados. Mas o César, na verdade, era sim, um grande amigão. De fé, posso dizer, com todas as letras. Alguém que realmente honrou a palavra colega, amigo, companheiro. O César foi o único que ficou comigo até de baixo dágua. Na verdade, de baixo de tiroteio, isso sim, numa situação que jamais esquecerei. Vivíamos(a turma toda) um momento de crise e discórdia por ocasião da formatura. Uma comissão, formada para organizar os trâmites da colação de grau começou a impor a sua “ditadurazinha”, bem aos moldes daquela do ano que não terminou. Num contexto de manipulação e mesquinharia, enquanto toda a turma, ciente dos desmandos, calava odiosamente,o César resistia e lutava, bravamente, ao meu lado; E o César foi entregar o “manifesto” que escrevi, expondo os motivos para não ir à prova de toga; E o César ficou do meu lado, em casa, em protesto de solidariedade por uma colega que não poderia comparecer à famigerada “prova de toga”. O César, um verdadeiro professor. O único que, dentre os 31 formandos daquela turma de 2009, que realmente pode incorporar esse título, pode se orgulhar de levantar essa bandeira. Um cara que jamais entregaria um companheiro, acredito, mesmo se estivesse num “pau de arara”, Um dos poucos educadores da área da matemática que não ia apenas ensinar números aos seus alunos, mas também ensinar valores.
Uma noite qualquer no intervalo das aulas na faculdade, em 2007
 
E, assim, fui percebendo sua inteligência, comprometimento, dedicação e competência que só evoluiu cada vez mais. Fui admirando aquele profissional e aquela figura humana, extremamente simples, no jeito de ser, na sinceridade e na verdade com que se relacionava com todos e ao mesmo tempo uma pessoa genial em relação ao potencial interno, de pessoa, de “ser gente”, digamos, que ele tem dentro de si, de fazer com que nós, seres humanos incompletos e “inconclusos”, como ensinava Paulo Freire, pudéssemos nos completar, evoluir na integração e no aprendizado mútuo de todo dia, da convivência, da troca.

Hoje, o César dá aula na rede pública estadual, na cidade de Viamão, em dois colégios, em comunidades carentes, com realidades diferentes e está realizando tudo aquilo que tivemos oportunidade de desenvolver juntos na faculdade. É concursado no magistério e enfrenta as realidades do ensino público em nosso país, ainda, com a bravura de um educador que sonha e acredita que o mundo pode ser melhor, pela sua força, dedicação e comprometimento. Mesmo sozinho, mesmo contra toda a corrente daqueles acomodados que ditam o padrão e as normas da educação nesse nosso tempo. Mora com os dois filhos, também em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, capital do nosso Estado e vive feliz entre os familiares, a irmã Deise, também educadora e que, dentro em breve, irão, ambos, realizar um dos grandes sonhos em comum: Uma viagem de férias à Londres.

Nas próximas páginas, acompanhe os melhores momentos dessa entrevista...


quarta-feira, novembro 03, 2010

Assim escrevemos nossa história

Para quem não lê a revista Carta Capital eu afereço essa oportunidade postando , sempre que possível, alguns artigos aqui no blog. Principalmente os textos do Mino Carta, que é o diretor de redação da revista e que, na minha opinião, é um gênio das palavras, do pensamento e da existência intelectual de nosso país e de nosso tempo.

Eu estou feliz com esse momento e esse episódio histórico que estou vivendo. Faço minhas as palavras de Mino Carta que, magistralmente, capta as nossas sensações.
Segue as últimas do momento:
"Dilma Rousseff, a eleita, teve de enfrentar a campanha mais feroz contra um candidato à Presidência na história do Brasil.
Temos uma mulher na Presidência da República, primeira na história do Brasil. E que uma mulher chegue a tanto já é notícia extraordinária.


Levo em conta a preocupação do Datafolha a respeito da presença feminina no tablado eleitoral: refiro-me à pergunta específica contida na sua pesquisa, sempre aguardada com ansiedade pelo Jornal Nacional e até pelo Estadão. A julgar pelo resultado do pleito, Dilma Rousseff representa entre nós a vitória contra o velho preconceito pelo qual mulher só tem serventia por certos dotes que a natureza generosamente lhe conferiu.
Para CartaCapital a eleição de Dilma Rousseff representa coisas mais.
A maioria dos eleitores moveu-se pelas razões que nos levaram a apoiar a candidata de Lula desde o começo oficial da campanha. Em primeiro lugar, a continuidade venceu porque a nação consagra os oito anos de bom governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Inevitável foi o confronto com o governo anterior de Fernando Henrique Cardoso, cujo trunfo inicial, a estabilidade, ele próprio, príncipe dos sociólogos, conseguiu pôr em risco.
Depois de Getúlio Vargas, embora manchada a memória pelo seu tempo de ditador, Lula foi o único presidente que agiu guiado por um projeto de país.
Na opinião de CartaCapital, ele poderia ter sido às vezes mais ousado em política social, mesmo assim mereceu índices de popularidade nunca dantes navegados e seu governo passou a ser fator determinante do êxito da candidata.
A comparação com FHC envolve também a personalidade de cada qual. Por exemplo: o professor de sociologia é muito menos comunicativo do que o ex-metalúrgico, sem falar em carisma. Não se trata apenas de um dom natural, e sim da postura física e da qualidade da fala, capaz de transmitir eficazmente ideias e emoções. Lembraremos inúmeros discursos de Lula, de FHC nenhum.
 
Outra diversidade chama em causa a mídia nativa. Fascinada, sempre esteve ao lado de FHC, inclusive para lhe esconder as mazelas.
Vigorosa intérprete do ódio de classe em exclusivo proveito do privilégio, atravessou oito anos a alvejar o presidente mais amado da história pátria. Quando, ao dar as boas-vindas aos 900 convidados da festa da premiação das empresas e dos empresários mais admirados no Brasil, ousei dizer que o mensalão, como pagamento mensal a parlamentares, não foi provado para desconforto da mídia, certo setor da plateia esboçou um começo de vaia. Calou-se quando o colega Paulo Henrique Amorim ergueu-se ao grito de “Viva Mino!” Os fiéis da tucanagem não primam pela bravura.
Pois Dilma Rousseff teve de enfrentar esta mídia atucanada, a reeditar o udenismo de antanho em sintonia fina com seus heróis. Deram até para evocar o passado da jovem Dilma, “guerrilheira” e “terrorista”. Como de hábito, apelaram para a má-fé para explorar a ignorância de um povo que, infelizmente, ainda não conhece a sua história, e que não a conhece por obra e graça sinistra de uma minoria a sonhar com um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem demos.

Nos porões do regime dos gendarmes da chamada elite, Dilma Rousseff­ foi encarcerada e brutalmente torturada. Poderia ter sofrido o mesmo fim de Vlado Herzog, que os jornalistas não se esquecem de recordar todo ano.


Mas a hipocrisia da mídia não tem limites, com a contribuição da ferocidade que imperou na internet ao sabor da campanha de ódio nunca tão capilar e agressiva. E na moldura cabe à perfeição a questão do aborto, praticado à vontade pelas privilegiadas e, ao que se diz, pela própria esposa de José Serra, e negado às desvalidas.

Até o papa alemão a presidente recém-eleita teve de enfrentar. Ao se encontrar já nos momentos finais da campanha com um grupo de bispos nordestinos, Ratzinger convidou-os a orientar os cidadãos contra quem não respeita a vida, clara referência à questão que, lamentavelmente, invadiu as primeiras páginas, as capas, os noticiários da tevê. Parece até que Bento XVI não sabe que o Vaticano fica na Itália, onde o aborto foi descriminalizado há 40 anos."
Mino Carta.
 Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/ate-o-papa-apoia-serra