segunda-feira, janeiro 03, 2011

DIA HISTÓRICO - COMANDANTE EM CHEFE-

“Meu Brasil!...

Que sonha com a volta

Do irmão do Henfil.

Com tanta gente que partiu

Num rabo de foguete

Chora!

A nossa Pátria

Mãe gentil

Choram Marias

E Clarisses

No solo do Brasil...

Mas sei, que uma dor

Assim pungente

Não há de ser inutilmente...”
“COMANDANTE EM CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS”.

A Presidenta Dilma passou, escoltada por um oficial do batalhão dos Dragões da Independência, em revista às tropas, diante do Parlamento. Para mim, entre tantas, esta foi a cena mais linda e emocionante  do dia. Emocionante, também, quando beijou a bandeira do nosso país. Dessa vez a escolta não era para os porões sujos de uma ditadura truculenta em tempos vividos, mas para ser reverenciada pelos seus antigos algozes daqueles tempos. As tropas, desse mesmo exército, que agora lhe presta continência, se rendem emblematicamente, à soberania e a ordem democrática que ela representa, ungida pelo povo e pelos ideais de liberdade e igualdade, outrora subtraídos por àquelas, com suas armas e autoritarismos bárbaros naqueles anos de chumbo. Eu chorei nessa hora, por captar e entender tamanha simbologia. Valeu estar vivo para assistir, “ao vivo” esse momento histórico. O mesmo, acredito, talvez tenha ocorrido com o ex-marido da Presidenta, Carlos Araújo, ex-deputado Estadual aqui do Sul, companheiro de luta daquelas épocas, assim como suas 11 ex-colegas de cela que estavam presentes nesse dia. Assisti, na sala aqui de casa com meu pai, ex sindicalista e amigo do Carlos Araújo, companheiro de lutas políticas e atividades sindicais, de quem cresci ouvindo histórias de presos políticos, “do Carlos e da Dilma que foram torturados na prisão”. Isso tudo tem tanta importância e é algo sem precedentes na nossa história. Quase algo inacreditável e ao mesmo tempo fantasticamente forte e real.

Para os jovens, que nasceram ontem e mesmo os que já são crescidinhos e tiveram pais alienados da história do nosso país ou que viveram do outro lado mais “cor de rosa” da vida, por motivos irrelevantes agora , mas que não tiveram e não tem a compreensão mais ampla do significado de uma repressão política num país, seria interessante  que soubessem o verdadeiro valor dos atores e protagonistas desses acontecimentos que inauguraram esse nosso ano de 2011. É preciso, sim,  que sempre lembremos daquelas coisas, justamente para que elas jamais voltem a acontecer um dia. Talvez os recém nascidos e outros nem tanto, não tenham conseguido sentir o significado de algumas palavras do discurso da Presidenta Dilma na ocasião de sua posse. Aqui, vai um trechinho exemplar para aqueles que não acompanharam ou dormiram nessa hora, assim como para uma juventude futura e órfão de história:
Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas  a todos que ousamos enfrentar o arbítrio."
Naquela época, pra quem não sabe ou quer fazer de conta que não existiu, muitos foram os que não suportaram essas adversidades, as torturas, morais, psicológicas e físicas a que o Regime ditatorial de governar o país lançava mão, nos seus porcos porões,  a fim de dissuadir aqueles “rebeldes” , presos políticos, que simplesmente queriam um país melhor pra se viver e que pensavam diferente. Esses presos não eram bandidos, assassinos, ladrões...Eram jovens, como esses de hoje que (hoje) são alienados pela internet, Orkut, MSN, face book, twiters” da vida”, eram professores de história, sociólogos, intelectuais, sindicalistas, estudantes antenados, participantes, pensantes, pais de família, filhos de família, que ousavam enfrentar os desmandos e barbaridades do autoritarismo instalado. Cada um, da sua maneira, fez a sua parte para que hoje pudéssemos estar aqui, para que eu tivesse a LIBERDADE de estar escrevendo e postando esse texto e para que os leitores assim estivessem lendo, opinando, criticando ou concordando. E por ISSO eram perseguidos e presos e covardemente mortos.

Lembro agora de algo que eu li ou assisti em algum documentário, não sei ao certo, mas que foi algo que me chocou deveras quando tomei conhecimento e até hoje, por certo jamais vou conseguir esquecer, permanece na minha memória. Era sobre as torturas do regime militar na Argentina, se não me engano, mais ou menos nesse período em que toda a América Latina viveu sua experiência própria, e assim fiquei sabendo sobre uma modalidade típica de tortura realizada quando o preso iria ser “supostamente” transferido. Colocavam-no em um avião e quando chegava a uma certa altura da viagem, na maioria das vezes sobre o oceano,  eram arremessados lá de cima, após, obviamente, uma torturazinha psicológica,  para que “aprendessem a nadar”. Dessa forma que, simplesmente,  desapareceram tantas  e milhares e milhares de pessoas nesse período. As históricas “Mães da Plaza de Mayo” na Argentina, referendam essas lembranças. E, como para me deixar mais chocado ainda, tive há alguns anos atrás a ratificação de tamanha barbárie. Um relato pessoal que ouvi, de um senhor de mais de 70 anos, mais ou menos, que na qualidade de cliente do local onde eu trabalhava passou a me contar coisas dos seus tempos passados. Ex militar, ex-funcionário público, enfim, fazia um balanço da sua vida e de suas peripécias no mundo e, a certa altura, entusiasmado com a minha atenção, começou a sentir as tradicionais “saudades dos tempos dos militares” e me relatou, assim, “no seco”, ao vivo, sobre os “passeios aéreos” que eles realizavam com os presos ali, na baía de Guanabara, pra quem não sabe, no Rio de Janeiro, e que ele houvera, por muitas e muitas vezes participado. A minha atenção a esse idoso, típico “bom velhinho”, camarada, conversador para quem o olhasse assim, numa primeira vista, nunca mais foi a mesma. Felizmente, eu nunca mais precisei atendê-lo. Mas isso jamais vai sair da minha memória.
 
Por outro lado, posso dizer: “como a vida é bela”, e como o “mundo dá voltas”, como às vezes dizemos. Eu espero, profundamente, que hoje ele, “o bom velhinho”,  esteja bem vivo para ter tido a oportunidade de ter assistido a Presidenta Dilma em revista às tropas nesse dia primeiro do ano de 2011. E, assim como tem as coisas ruins, tem as boas. Eu jamais vou esquecer esse momento. Foi muito, muito mais do que uma simples simbologia. Foi uma vitória emblemática. Gosto dessa palavra, emblemática. Assim também como será inesquecível a emoção da Presidenta, ao discursar no Parlatório (imagem inimaginável), como chefe de uma nação, ao mencionar o trecho em que dedica aos companheiros que tombaram. E foram tantos os que tombaram...não só no Brasil, mas em toda  a America Latina que vivia sob o jugo de um general. À todos eles foi essa vitória, tenho certeza disso.
 
E por fim, uma música que me veio à memória, histórica e que poderia ter envolvido todo esse dia num fantástico show de encerramento. Talvez pudesse ter sido assim, mas não temos tudo nessa vida e , infelizmente, habita somente nas minhas intenções. “O Bêbado e a Equilibrista”, uma canção que combinava com esse momento, perfeitamente. Talvez, se a Elis estivesse viva poderia ter nos presenteado com sua interpretação nesse dia histórico....
 
Uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente...”
Uma profecia que fico até arrepiado de acreditar.
 
"A esperança... dança na corda bamba de sombrinha e em cada passo dessa linha pode se machucar...” .
E quanta gente se machucou...
 
"Azar, a ESPERANÇA equilibrista, sabe que o show de todo artista TEM QUE CONTINUAR...”
 
E, assim, mais uma vez...a Esperança venceu o medo....