quinta-feira, outubro 22, 2009

Descobertas

Descobrindo coisas pela internet, no youtube, me surpreendo cada dia. Estou num "momento"  em que chamei de "Tempo de Elis", ou seja, um tempo em que comecei a me envolver, descobrir, conhecer e conviver com esse tema. Assim como em setembro, por ocasião das comemorações da semana da pátria e dos "ideais farroupilhas " com as lembranças do 20 de setembro, data festiva aqui no sul, entrei num momento regional, "gaudério", onde estava envolvido com esse tema e assunto. Isso, claro, refletindo-se no orkut, onde podia expressar  e compartilhar os meus sentimentos através das fotos, das letras de músicas e etc. Agora tenho o blog, que será também espaço para dividir essas sensações de momentos e de tempos experimentados nesse processo de viver. E viver, se vive junto. Já lí ,em algum lugar, não lembro onde, talvez tenha sido em Paulo Freire ou outro educador, na época da minha formação docente,  a afirmação de que nós só somos nós através dos outros. Nós só podemos nos reconhecer existentes no mundo pelo outro. O olhar do outro é que nos faz existir. Era mais ou menos isso. Essa, talvez, seja uma boa justificativa para a existência dos blogs?. Por via das dúvidas, aqui estou.
Assim que, estando no "Tempo de Elis", mas nunca saindo do meu tempo de agora, ontem descobri algumas entrevistas dessa menina, nos tempos em que eu era apenas um menino. Vale a pena ouvir.
Esse vídeo, com a entrevista da Elis para a rádio Nacional, em 1980, indignada e emocionada, comentando sobre a morte do John Lennon é revelador. Revelador da atualidade, das coisas que ela dizia e percebia, naquela época quanto ao comportamento das pessoas que, hoje, não mudou em nada. É importante ouvir  e refletir sobre e com os acontecimentos do nosso momento atual. Sobre as coisas que acontecem no Rio , dentro da casa da gente, principalmente e  no círculo de amigos, no dia-a-dia, na correria, na confusão da nossa vida.
Ouçam. Ouvir nunca é demais.

http://www.youtube.com/watch?v=GHraQ5xvvVA

domingo, outubro 18, 2009

De Pontos e de Vida


“ Eu vi a cara da morte e ela estava viva!”. A composição que Cazuza fez nos anos 80 foi a primeira coisa que me veio à mente quando olhei na TV aquele tanque escuro da polícia carioca pelas ruas da cidade. Certamente não há coisa mais semelhante para representar uma coisa tão terrível e apavorante quanto essa. Da mesma forma, a imagem dos casebres pendendo do morro, em construções irregulares e amontoadas de tijolos à vista onde, um sem número de vidas humanas habitam, revelou a parte feia e suja de uma cidade, cantada em prosa e verso, tão bonita por natureza. A alma humana, inocente e bela, divide espaço por ali com a podridão e criminalidade da marginália fora da lei. Gente humilde, inocente, trabalhadora, acaba sofrendo e pagando o preço de uma conta que não é sua.


Mas a parte podre da vida não vive somente em favelas. Aqui, bem mais abaixo, na planície verdejante de nossos jardins, nas nossas casas limpinhas e bem cuidadas, de quintais arrumadinhos ou em algum quarto de apartamento, dos centros de nossas cidades, reside, bem nutrida e acalentada a alma decrépita e pútrida de quem, a cada dia, também colabora para o aumento desenfreado dessa dívida social. No polêmico filme “Tropa de Elite”, talvez ninguém tenha dado tanta importância para a cena em que o Cap. Nascimento, ao abordar diversas pessoas dentro da favela, passa uma lição num jovem que se apresenta como “estudante”, com a intenção de se eximir de qualquer culpa. Na verdade, essa bela passagem precisava ser melhor refletida por todos. Assim, também como no filme “Meu Nome não é Johnny”, a realidade que nos cerca se mostra muito viva. Porém, às vezes estamos no quarto de cima e não conseguimos perceber- e muitos não querem admitir, outros não conseguem enxergar- que a festa no andar de baixo não é uma simples reunião dançante; São os meus colegas de faculdade, os colegas de trabalho, os jovens da classe média e também os da periferia; São os filhos bem nascidos de pais muito ocupados ou alienados; São os filhos abandonados; São os profissionais de todas as áreas e inclusive os da lei; São pessoas reais, muitas não conhecidas pessoalmente, mas pela história verídica de algum amigo; São artistas, intelectuais, políticos, que ao chegarem ao hotel de alguma cidade, como primeira providência é a de saber onde é “o ponto” ou quem é a pessoa “confirmada” que poderá conseguir a coisa certa; São esses, os meus, os teus e os nossos “conhecidos”, que muito colaboram para deixar a cara da vida com a cara da morte.


Nesse sentido, a feiúra do Rio de Janeiro mostrou a sua cara dessa vez e de vez. Pela televisão, nós vimos a cara da morte e ela era feia e estava viva. Aqueles que ainda não sabiam, agora descobriram que “os pontos” da cidade maravilhosa não são somente os turísticos. E pelo que se percebeu, pela magnitude dos estragos realizados, pode-se entender a importância e a necessidade em manter eles sob domínio e controle. O poder, demonstrado nas ações dos traficantes, no sentido de apoderarem-se de territórios específicos de seus rivais, é algo sem precedentes na história desse país, além de ser um momento de preocupante expectativa no que tange ao futuro de todos os cidadãos, não somente cariocas, mas de todo brasileiro que vive à mercê da criminalidade crescente nas grandes cidades. O que mais se pode esperar depois de já ser possível derrubar um helicóptero, e da polícia, ainda por cima?! O que mais poderemos esperar dos nossos “confirmados”? A realidade está mostrando o que realmente eles podem entregar. Tudo o que vem junto com o simples “baseadinho”, com o “papelotezinho”, com o mais recente “crack”, com a nossa condescendência com o colega, com o filho, com o parente, com o vizinho, com o amigo do amigo, com o cunhado do tio do conhecido, com o nosso artista preferido, com o nosso ídolo, o nosso “pop star”: Uma encomenda que tem um preço muito mais alto do que sonham algumas vãs filosofias.


Eu vi a cara da morte, e ela está viva! Mas ela não está, somente, na face escura e sombria dos casebres feios e descompostos nos morros do Rio e de qualquer cidade conhecida nossa. Não está, somente, nas mãos perversas dos traficantes e criminosos que se organizam e se preparam, cada vez mais, para atender a demanda que, sem sombra de dúvida é a origem dessa bola de neve que parece não ter mais fim. É importante que se reflita e se atente para esse enorme crediário sem avalista, onde o fiador é a própria vida humana. Não só a vida dos nossos próprios “conhecidos”, que dormem em berço esplêndido, nesse momento, mas a nossa própria, almas humanas, que necessitam desse mesmo espaço de convivência. A verdadeira questão das drogas e dos traficantes, assim como o contrabando, o comércio ilegal de qualquer coisa que seja, não reside no insistente e cansado- e muitas vezes inútil- combate a essas práticas. O “ponto” e o “cara confirmado”, que estão e sempre estiveram entre nós, matando aos poucos e de todas as formas a vida, terão sempre os seus substitutos, enquanto existirem, no andar de baixo, na festinha inocente, no passeio do parque, no interior de muitos edifícios luxuosos, algum “conhecido” nosso disposto a procurar por eles.

Alvorada, 18 de Outubro de 2009.
João Cláudio Amaral Marques

quinta-feira, outubro 15, 2009

Ao Mestre, com carinho

Acabo de ler, hoje, 14 de outubro, na zero hora do dia, uma matéria muito preocupante e triste. Estampada na página 35, uma história da série “Escolas Conflagradas”, que o jornal vem publicando nas últimas semanas, apresenta o fim trágico que resultou a vida de um professor, dedicado, corajoso e apaixonado. O professor Ozório Alceu Felini, com apenas 45 anos foi esfaqueado por um jovem, em plena escola na qual não só trabalhava, por que muitos “apenas trabalham ou fingem que trabalham”, mas literalmente na qual se “doava”, como podemos perceber do depoimento de sua esposa e filhas no sentido de tentar persuadi-lo à preocupar-se mais com a família do que com os seus alunos. Vale registrar aqui sua resposta: “ A melhor forma de proteger as nossas filhas é melhorando a sociedade”. No dia 17 de março, deste ano!!, no exercício de sua MISSÃO, foi atingido brutalmente, “banalmente” por um aluno da escola Estadual Bernardina Rodrigues Padilha, em Vacaria, ao tentar separar uma briga de duas meninas. No dia 26 de março morreu no hospital em decorrência desse fato. Simples fato, que só fiquei sabendo hoje, 7 meses depois, isto porque foi publicado no jornal.Quantos mais, por esses interiores, não só aqui do sul, mas de todo esse enorme país, quantos mais, tiveram esse fim e quantos mais ainda terão??? Tem uma música nativista que diz “todos os heróis estão mortos”. E é verdade. Quem quer ser herói? Quem se candidata? Eu tentei ser herói um dia, admito. Foi há bem pouco tempo atrás. Em março, ainda, quando o professor Ozório levava a facada certeira, no destino da sua existência. Parece que até a providência não quer saber mais de heróis. Ou não que saber mais de alguém querendo melhorar a sociedade. Nessa época, recém formado, eu também sonhava melhorar a sociedade. E, sinceramente, não o fazia para sair nos jornais, para ganhar glória e notoriedade. Realmente, eu acreditava que poderia, que deveria. Eu acreditava no mesmo sonho do professor Ozório. Firmemente, eu acreditava, juro. Por isso essa reportagem me deixou mais triste no dia de hoje. Apenas mais uma tristeza a figurar no rol das tantas que vamos acumulando. Mas eu “joguei a toalha”, “chutei o balde”. Nem bem comecei, dirão alguns. Mas eu não sou cego, nem surdo. O que eu vejo, ouço, presencio, já é o suficiente. Só não digo que as coisas serão assim para sempre porque elas não eram assim, mas ficaram. Então, talvez, eu mude minha visão, no futuro.Mas o certo é que agora, no presente, é assim: Não quero ajudar quem não se ajuda, não quero fazer concurso para herói, não quero olhar para todos os lados e me ver sozinho. Não quero ser o último a apagar a luz. O que eu quero, o que eu preciso, é conhecer Paris antes de morrer. O professor Ozório, se não conheceu, jamais conhecerá. O mundo, também, jamais conhecerá o professor Ozório. Eu não quero ser o professor Ozório. Mas quando eu estiver lá na torre Eiffel, um dia, que é o meu sonho, ou diante do quadro da Monalisa, no Louvre, eu vou ter a certeza de que fiz a coisa certa, pelo professor Ozório.

Fui trabalhar e voltei. Quero terminar o capítulo do professor Ozório, mas não consigo. Pensei nisso o dia todo. Como as coisas são interessantes nesse mundo e ao mesmo tempo, tão estúpidas. Vivemos num mundo tão complicado, num tempo de coisas tão difíceis. Ano de 2009, século 21. Nosso país atravessando uma crise de ética na política, onde os senadores dessa república “chafurdam” na lama da imoralidade com coisa pública. Os deputados não ficam para trás. Aqui no sul, o governo do Estado, chefiado por uma governadora, está envolvido até os últimos fios de cabelo em escândalos e irregularidades desde o início do mandato. A assembléia legislativa se ocupa de comissões e discussões intermináveis e inúteis entre o governo e oposição. E por fim, no fim dos confins deste vasto universo, numa cidade chamada Vacaria, nesse exato momento, alguém com princípios, idéias, utopias, sonhos, desejos, fé, esperança, crença; Alguém que tinha certeza que o mundo poderia ser melhor, que a vida poderia ser diferente; Alguém que amava, que se doava; Nesse exato instante em que a noite se foi e, entrando madrugada adentro nos encontramos no outro dia, esse alguém, descansa em paz...

Feliz dia do Professor.

Alvorada, 15 de Outubro de 2009.
João Cláudio Amaral Marques

domingo, outubro 11, 2009

A semaninha

A semaninha começa hoje, domingo. E hoje é mais um domingo comum de um final de ano. Na verdade, meio de feriado. Dia 11 de outubro. Amanhã, dia 12, é feriado santo, dia de Nsa. Sra. Aparecida e também dia da criança. A santa é a padroeira do Brasil, nosso país e por isso, em diversos lugares amanhã os festejos ditarão a ordem do dia. Como somos um país laico, todas as comemorações serão bem vindas. E muitos poderão comemorar, de pernas para o ar, sem nenhuma obrigação maior a alegria de não precisar começar o dia normal de trabalho numa segunda- feira. Mas hoje, ainda é domingo e aproveito para registrar aqui o reinício desse blog, que havia começado há muito tempo atrás e nem lembrava mais. Tentarei tornar rotina e frequencia esse exercício de escrever aqui. não somente as trivialidades do meu dia-dia, assim como opinião, notícia, informação, reclamação e tudo o mais que entender necessário e adequado registrar. O dia hoje foi muito tranquilo. Uma chuva forte iniciou alí pelas 14 horas e permanece, ainda, persistente até agora. Estamos na primavera mas os dias frios não querem ir embora. Este feriadão todo eu não trabalho, retornando somente na terça feira. Hoje passei o dia na ociosidade. Assisti dois filmes, comi brigadeiro na panela, que a mãe preparou e ficamos os dois em casa, cada um nas suas tarefas particulares. O mais importante de tudo foi o dia ter sido muito tranquilo. Agora à noite, assim como fiz durante o dia, troquei a agitação e a aglomeração de pessoas pela minha agradável companhia. Se quisesse, poderia sair para a balada mas, devido à conteção de despesas nas quais me encontro atualmente e o desejo crescente de fuga das grandes concentrações de pessoas, optei pelo melhor lugar que existe no mundo: Meu pequeno e aconchegante quarto.
Alvorada, 11 de Outubro de 2009.
João Claudio.