terça-feira, dezembro 28, 2010

ENTREVISTA-César P. Trajano-Parte 4-FINAL



Parte 4- Um pouco de tudo, que é tudo de um pouco...


Paseio à Gramado com a turma de formandos em 2008

CA-Que tu acha de nosso país, tem solução, é uma porcaria, pode melhorar?
Cesar-Ah, sim, poder, com certeza , pode. Potencial pra isso tem. O que falta é bem isso mesmo, o que falta é educação, o que falta é civilização eu acho para o nosso povo. Porque o povo com falta de educação, e eu digo educação escolar, instrução na verdade, o povo com essa falta deixa assim tudo a mercê dessa gente corrupta, dessa gente que só quer se aproveitar, que só pensa em tirar proveito pra si próprio. Ninguém se candidata hoje nesse país pensando no povo, pensando no Brasil e sim  em si próprio nos seus  benefícios, na sua estrutura de vida e, claro que isso também, sei lá culpa desse capitalismo que a gente vive, é óbvio que tu tem que pensar em ti, mas também de maneiras lícitas, eu acho que é o correto, e não de dessas formas  ilícitas  que  acontece. E por nós sermos um país de ignorantes, isso tudo acontece exatamente por isso, porque se isso acontecesse na Europa, até pode acontecer, mas é de forma bem menor do que aqui. Aqui as coisas acontecem , são escancaradas e ainda  assim fica por isso mesmo. Lá, se acontece, não é nessa proporção que aqui e tudo acaba em pizza. Então, eu acho que tem sim, mas a educação , a instrução vai ser a base de tudo.

CA- Tu ficou feliz com a eleição, agora,  de uma presidenta, tu acha que de repente vai ser diferente, alguma coisa?
Cesar- Eu não fiquei feliz porque eu acho que ela não era, na verdade,  a candidata que se enquadrava nos meus princípios, mas como o Lula , por exemplo, se enquadrava nos meus princípios e o fato de ele ter deixado ela como sucessora, embora não é da minha simpatia, fez com que eu acabasse concordando, porque na minha idéia, espero que seja, apenas uma estratégia política, de manter o governo no mesmo partido pra que ele possa voltar daqui a pouco, é o que eu to supondo que aconteça, mas feliz não, não  fiquei feliz não.

CA- Tu podes dizer quem tu simpatizava, ou o voto é secreto?
César- Posso sim, eu preferia o Tarso Genro, que ele não viesse pra cá, mas que fosse pra presidência ou até mesmo a Marina Silva que foi, inclusive, meu primeiro voto, porque eu queria desestabilizar um pouco isso aí. Eu achava extremamente importante que houvesse o segundo turno, pra mim seria fantástico se fosse Marina e Dilma. Mas já que não foi, tudo bem. Aí no segundo, mais por totalmente discordância do PSDB eu acabei indo de Dilma porque foi o que restou de opção, né.

CA- E a mulher, tu acha que tem diferença na condução das coisas, na competência em relação aos homens?
César- Eu até acredito que haja alguma diferença no sentido assim, como a mulher é mais sentimental, ela faz, o gênero feminino, de modo geral, daí né, tirando as exceções, o gênero feminino tende a fazer as coisas de maneira mais minuciosa, mais pensada, mais preocupada, mais conseqüente. Já os homens eu acho, sei lá, não que não tenha esses, mas de um modo  geral eu acho que o homem é mais inconseqüente, o homem faz as coisas de maneira mais impensada, mais imediata do que a mulher, a mulher já pondera mais , pensa mais nas conseqüências, então eu acho que... não essa nossa atual, que ela é uma das que faz parte das exceções, mas eu acho que uma mulher ou as mulheres governando eu acho que muita coisa mudaria.

CA- E no mundo, que tu gostaria de mudar no mundo?
César- A fome, a corrupção e a desigualdade, eu acho que é primordial, eu acho que se isso se extinguisse, se abolisse ah, sei lá, nós iríamos viver numa fraternidade, sei lá, os preconceitos, essas coisas...Eu acho que só o fato da desigualdade , também, desaparecer, isso desencadearia um processo, assim, extremamente  novo no caminho do bem, porque aí eu acredito que  o traficante não ia mais precisar disso, o marginal não Ia precisar estar roubando, tirando a vida das pessoas por um par de tênis, tudo mudaria, tudo se transformaria, as pessoas iriam a escola por vontade, por querer, não por imposição dos pais, nós seriamos exatamente isso , uma sociedade igual.


Festa dos formandos- Dez/2008
Prof. Dolurdes tirou o Chapéu para o César

CA- E daqui a 10 anos? Onde o César que estar daqui a 10 anos?

César- Bom, daqui a 10 anos eu quero ter minha situação financeira extremamente organizada,estável, com bens, no sentido de carro, casa e aproveitar todos os momentos pra viajar, viajar, viajar(risos),muita atividade cultural, ir pra tudo que lugar, nem que eu tenha que repetir as viagens e...diversão em todos os sentidos.

CA- Pra quem tu tiraria o chapéu?
César- Primeiro: Presidente Lula; Para Dolurdes, pra ti(risos).

CA-Pra quem tu NÃO tirarias o chapéu?
César- Adolf Hitler e os professores(classe) do magistério atual.

CA- O que ou quem levarias para uma ilha deserta?
César- Meus filhos.

CA-E quem deixarias lá?
César-Os marginais, inclusive eu acho que os presídios deveriam ser todos em ilhas...no meio do oceano ainda...

CA- A felicidade, existe?Te consideras feliz?
César- Muito, pelo mesmo assim, claro que a vida tem os seus momentos, de altos e baixos,mas eu pelo menos depois de me formar eu tive muito mais momentos de felicidade do que o contrário, existe sim, não que ela não é uma coisa eterna, ela é momentânea, mas existe.

CA- E o que tu gostarias de ser se tu não fosses o que tu és hoje?
César- Profissão não consigo imaginar outra coisa...mas gostaria de ser mais dinâmico, mais inteligente, talvez, mais criativo e principalmente menos tímido.

CA- Teu tempo de Expressão, falas o que tu achou de ser entrevistado, dessa iniciativa... 
Cesar- Gostaria de falar  que eu adorei essa idéia, foi muito legal, revivi, me lembrei hoje bastante coisa, falei pelos cotovelos, gostei parece assim que eu sou uma celebridade...

CA- Todos nós somos celebridade, só não somos descobertos, né?(risos)

Festa dos formandos-Dez/2008
Adivinha para quem ele tirou o chapéu?

César- Só não somos descobertos... mas assim, sei lá me fez refletir sobre bastante coisas, muito bom , adorei que legal, tem que vir aqui mais vezes...(risos).

CA- Alguma pergunta para o entrevistador?
César- Uma pergunta eu até gostaria de fazer... aí eu quero saber como foi a nossa aproximação, como foi isso pra ti?

CA- Ver descrição no início da entrevista- Como tudo começou- Parte 1-




segunda-feira, dezembro 20, 2010

ENTREVISTA-César P. Trajano- PARTE 3


PARTE 3- VIVENDO E APRENDENDO


Natal Luz 2008- Gramado-
Passeio da turma de formandos

 CA- O amor existe? O que é o amor pra ti?
César- O amor existe sim, nas suas diversas formas ele existe sim. Na forma de relacionamento, sei lá,  interpessoal, homem homem, homem mulher, tanto faz,  no sentido que eu digo, de uma vida a dois, eu acho que ele existe sim, mas ele acaba. Eu acho que ele é menos intenso. Aí eu acho que não se classifica como amor, e sim como uma paixão, um fogo, algo de momento, que vai ter período de validade sim, essa sensação. E depois vai virar comodismo, vai virar como a gente diz, não é bem comodismo a palavra...uma rotina... mas me fugiu agora. Mas assim, eu acho que amor mesmo a gente descobre quando se tem filhos, aí sim, a gente descobre o que é esse sentimento, o que verdadeiramente essa palavra, esse peso tem na nossa vida, quando se tem filhos. Filhos sim, é o ar que tu respira, é o batimento cardíaco da tua vida, é uma coisa inexplicável esse sentimento.

CA- E o César já amou outra pessoa? Interpessoalmente falando?
César- é bem complexo, né... conforme tu vai amadurecendo, tu vai vendo que não, aquilo não era amor, era uma paixonite...um fogo, então eu acho que não, que realmente,amar não, é muito forte...e nem pretendo porque simplesmente eu acho que também pode transformar e modificar muita coisa na minha vida. E isso é uma coisa que me preocupa, que me desestabiliza não saber o meu dia de amanhã e eu tenho que estar cronometrado, controlado.

CA- E o relacionamento com outra pessoa está fora então da tua vida?
César- Relacionar não, mas amar, sim. O amor não faz parte...

CA- Tua acha que a gente pode dominar o amor então? E dizer quando ele pode ou não acontecer?
César- Não, não se pode, mas tu consegue perceber os primeiros sintomas dele e fugir dele.

CA- Então tu foges do amor?
César- Sim, com certeza.

CA- Porque tu foges do amor?
César- Exatamente por isso, por ter medo de que esse sentimento venha desestabilizar minha vida, desorganizar ela de alguma forma. E eu sou uma pessoa que tenho que ter minha vida organizada, preciso saber o que eu vou fazer daqui a um mês daqui a 15 dias daqui a uma semana ...e um amor vai desorganizar isso e de repente numa hora que eu não quero que desorganize, vai desestabilizar de uma forma que eu não vou estar afim de viver aquele momento. Ou por exemplo, eu to agora aqui conversando contigo, se eu estou amando alguém e esse alguém me liga eu tenho que sair correndo? Não. Pra mim não serve. Porque agora eu estou aqui, eu quero estar aqui.Então não tem espaço pra isso na minha vida.

CA- Nesse momento a Deise(irmã) que estava ouvindo a entrevista perguntou: - Tu não vai dizer aquela frase célebre: “Eu me basto?” (Risos de todos)

CA- O teu maior medo então é esse?
César– Exatamente, me desestabilizar. Não gosto de improvisos, não é comigo.

CA- E o teu maior sonho?
César- Assim, sempre tive vários. O maior mesmo era me formar, vestir aquela roupa. Já realizei. Ser professor de matemática era a próxima etapa. E depois, o terceiro e o que talvez está no momento era conhecer Nova Iorque. Pela praticidade to indo pra Inglaterra. (Já falamos).

CA- Porque motivo chorou pela última vez?
César- Por uma aula frustrante, mal dada.
CA- Porque motivo riu pela última vez?
César- Foi terça feira, quando eu consegui ir lá fechar o pacote da viagem.

CA- Hábito que não abre mão?
César- Computador. Nem é a internet. O The Sims, por exemplo...Não abro mão desse jogo.

CA- Hábito que quer se livrar?César- Cigarro, esse sim

CA- Qual tu consideras a maior virtude que um pessoa pode ter?
César-  Sinceridade.é tudo.

CA- Uma lembrança inesquecível?
César- Tem várias. Tem a minha mãe. Mas também tem a formatura.

CA- Algo pra esquecer?
César- A morte da minha mãe e uma vez que eu perdi o controle e espanquei meu filho mais velho. Me senti um monstro, me senti um lixo, um marginal, a ultima das pessoas, um criminoso.

CA- Se tivesse que escolher algo pra reviver?
César- 2008. Porque foi ano de desespero, de formatura, de correria...talvez aproveitando de uma maneira melhor.

CA- Qual o teu bem mais precioso?
César- Meus filhos.


Fórum FAPA- 2008
Mirela,Rodrigo,Prof.Dolurdes,Andréa,Prof.Bárbara,César, João

CA- Uma personalidade marcante?
César-Tem duas: Xuxa e Dolurdes.
CA-Porque?
César-Porque desde a infância, sempre fui um baixinho dela, sempre seguia os ensinamentos dela,  assistia ela assim pra ver os conselhos que ela ia dar. Então toda essa minha concepção, sei lá, por eu ter perdido minha mãe muito cedo, de sinceridade, de não mentir, de ser amigo, de não magoar, tudo isso eu aprendi com a Xuxa. E a Dolurdes, pela sua inteligência, sua determinação, sua autoridade, a postura dela quanto profissional, com ela não tinha nada ruim, ela te motivava: “ a educação é isso, vamo lá, tu consegue sim, tu é é capaz! Te dava auto-estima ”. Pra mim ela é uma pessoa determinada, guerreira. Acho que eu me vejo assim também. Isso fez eu me identificar.

CA-Alguém que admiras, Não sendo artista?
César- Eu te admiro, por exemplo.(-eu não vale!) Porque? É o que eu acho.Vale sim. (Tá bom, obrigado, idem)Risos. A Deise, a Dolurdes, o meu filho Lucas.

CA- Um filme?marcante?
César- O primeiro filme que me marcou, até é ridículo, não sei porque, mas que me marcou muito foi “Falcao, o campeão dos campeões”, quando eu tinha uns 12 ou 13 anos, depois foi o “Titanic”, no meu tempo de adolescente, de depressão, me marcou demais aquele filme. Depois um que eu gosto muito, não que marcou, mas que gosto muito, amo: Harry Potter.

CA- Um livro?
César-Todos do Dan Brawn, que eu já li, Código da Vinci, Fortaleza Digital, Anjos e Demônios. E claro, os livros da Zíbia Gaspareto, que eu amo também. Mas assim, os do Dan Brawn me fascinaram muito mais.

CA- Da Zíbia é na linha espitrita né.? Tu é espirita?
César- Não sou, mas  gosto. Da doutrina, dos livros.

CA- Qual tua religião?
César- Não tenho, sou ateu. Gosto da doutrina espírita. Acredito na doutrina espírita, mas não freqüento. Não sou um praticante do espiritismo.

CA- Então tu não é ateu. Ateu é aquele que não acredita em nada.
César- Não, eu creio.
César- Então não sou ateu. Eu sou crente no espitritismo.
CA- Tua acredita em cristo?
César- Sim, acima de tudo.

CA- E  a morte?
César- É um novo começo. Tem os extremos. È tanto felicidade, mas aí seria o caminho para uma nova felicidade e também é tristeza, porque ela também é o fim de um ciclo, o  que gera a tristeza. Pra mim ela é as duas coisas ao mesmo tempo.

CA- E do que tu tem saudade?
César- Da minha adolescência, tenho saudade dos amigos, tenho saudade do meu passado assim,sabe, de muitos momentos, da faculdade.

CA- O teu passado não te condena?
César- Não me condena..não, não me condena....embora, claro né, sempre tem alguma coisa negra, isso é normal. Não é que seja negra,também,  sei lá, desde que tu não mate, não roube, não tenha prejudicado ninguém, não vejo nada de negro nisso, talvez alguma coisa contra as regras da sociedade,mas nada criminoso, então... as coisas mais light. Mas eu tenho muita saudade sim da minha adolescência, do meu período em Santa Catarina , também tenho saudade da infância, tenho saudade do passado, acho que é essa bem a definição, do passado como um todo.

CA- Uma música?
César- “Campeão”, da Jamile, uma cantora gospel. Curto outros, também, mas o gospel, sei lá, tem letra, tem assim sempre uma mensagem que me acalenta.
CA-E MPB?
César- A eu gosto de uma Elis Regina, eu acho que mais ela...embora eu até conheça alguns outros, sei lá, assim, mas ela eu acho que é o principal ícone disso.

sábado, dezembro 11, 2010

ENTREVISTA-César P. Trajano- PARTE 2


PARTE 2- A EDUCAÇÃO É TUDO
Entrevista em 20/11/2010

Foi numa tarde, como todas as outras em que lá estive, prazerosa. Eram 17 horas quando cheguei e acabei saindo de lá depois da meia noite, após um rápido jantar pedido numa tele-entrega. Começamos nossa conversa descontraidamente, falamos sobre a viagem que ele está prestes a fazer, a expectativa desse sonho que está por realizar. Em fevereiro estará indo para a Inglaterra e foi por aí que começamos a dividir nossas sensações. Em seguida, como não podia deixar de ser, como sempre acontece quando nos encontramos, começamos a relembrar os nossos dias de estudante na faculdade, das coisas que aconteceram e de como foi o início da nossa amizade, como nos aproximamos. Aí passamos a discorrer sobre o assunto que sempre nos identifica e preocupa, a educação.

Comecei perguntando a ele sobre como estava, então, a vida agora, de profissional, de professor. Se tinha mudado alguma coisa ou se continuava a presença das mesmas dificuldades que observávamos no período de estágio. Aí, ele passou a me expor a realidade/dificuldade que estava passando no momento, assim como os projetos que está  desenvolvendo nas escolas onde está lecionando nesse ano. Fiquei mais uma vez, posso admitir, entre impressionado e fascinado com as iniciativas que ele vem desenvolvendo. Fiquei, obviamente, muito feliz pelo que ele está  fazendo com os seus alunos, pela luta que está travando com a bagunça do ensino público, por um lado, aliado ao descompromisso dos próprios colegas, outros professores e, por outro, pela mudança que, mesmo sendo pequena, pode ser uma esperança a ser implantada nas demais escolas em relação às melhorias na qualidade da educação em nosso país. Fiquei, também, e não poderia deixar de dizer, com muito orgulho, admirando cada vez mais esse profissional exemplar que é o Professor César, que está no inicio de um processo difícil de transformação desse espaço educacional, meio que sozinho, nesse momento, nas escolas onde está trabalhando 60 horas e introduzindo(tentando) processos interdisciplinares nas suas práticas pedagógicas diárias.  Foi sensacional, confira os melhores momentos:

Dias de estudante em sala de aula, em 2008.
Cadernos De Amaral- E como tá sendo ser professor? Tu gostas do que faz? Era o que tu queria, tu sempre quis ser professor?
César- Eu amo, né. Desde sempre, desde que entrei, desde que eu aprendi a ler, na verdade, aos 6 anos de idade. Eu decidi que queria ser professor. Só não tinha claro, não entendia ainda como isso funcionaria, isso eu fui decidir na 5ª série. Quando eu cheguei na 5ª.  série o conteúdo de matemática me fascinou. Expressões numéricas foi tudo na minha vida. Aquela coisa de chaves e  colchetes, e tinha que seguir uma regrinha. Porque até então até a 4ª. Era aquela ... 4 operações. Então na 5ª. série foi assim, o estopim: Eu quero ser professor de matemática! Aquilo ali foi tudo na minha vida! Mas também não fazia idéia que a pessoa tinha que fazer faculdade. Eu achava que chegava um certo momento da vida que deu, tu completou os estudos, em alguma data. Em algum momento tu completou teus estudos e acabou. Porque sei lá, eu tinha 12 anos na época. Ai, comecei a perguntar daqui, dali, pros professores, como era, ah! tem que fazer faculdade, ah! mas que hora que se faz faculdade, eu possso fazer agora?  Tem que esperar, como que funciona? E fui aprendendo isso. Aí eu vi que a faculdade era uma coisa paga, se tu não puder entrar numa pública, vai ter que pagar por isso. Quando eu fiquei maior eu vi que isso não era uma coisa muito fácil. Então,  eu fui fazer o magistério. Bom, no ensino médio, magistério gratuíto, pelo menos eu vou estar na profissão que eu gosto, ainda não vai ser matemática, mas pelo menos já é a profissão.Fiz o fundamental aqui,(RS) com 15 anos e fui morar em SC e aí eu fiz o magistério lá, de 98 até 2000, exercendo a profissão.

CA- Tu tá revolucionando então a escola?
César- Tô, mas cansa.Cansa na verdade porque eu to com os 3 turnos, porque se eu estivesse um a menos eu teria me dedicado muito mais. Eu sempre fui contra o professor trabalhar 60 horas. Eu só estou trabalhando 60 horas porque foi uma imposição do Estado. Eu acho que não é justo, porque tu não consegue se dedicar. O máximo que tu consegue é fazer isso, é tu ir lá e pegar um livro e ir pra sala de aula e "vamo resolver isso aqui". A minha concepção de educação não é essa. Só que agora, tudo bem, eu to me dedicando a essa gincana, aqui dos meus alunos, só que eu to exausto, esgotado,no auge do meu limite. Meu deus do céu eu to em desespero pra que chegue essas férias, Eu acumulei muita coisa e agora com as crianças eu tenho que tá me reciclando todo dia, com a matemática e com a física do médio eu to me reciclando todo dia, então, realmente ficou , esse mês, extremamente pesado. Agora pode ser que tá acabando o ano eu vou dar uma relaxada. Então, eu acho que o meu aluno não pode ter um professor que trabalhe 60 horas porque o professor tem que se dedicar de alguma forma. Tu não pode entrar nessa profissão pensando em enriquecer, embora quase dê.(Risos!)

CA-(risos) Que bom , então quer dizer que vale a pena ser professor hoje?
César- Vale.Vale a pena ser professor hoje.

CA- Sério? Tem muita gente que reclama, né, tá insatisfeito...
César- Eu acho que como em qualquer profissão tu tem os teus dias de altos e baixos, tem dias que eu saio de lá assim revoltado, já saí de lá até chorando, magoado, pensando assim, minha aula foi um horror, eu não consegui agradar eles, por isso que eles fizeram isso, por que eu trouxe alguma porcaria que não foi legal. Como é que eu vou melhorar isso? Mas eu saio magoado não com eles, comigo. Que espécie de professor eu sou que não consegui envolver os meus alunos, que eu não consegui fazer com que eles gostassem da minha aula? Amanhã eu tenho que levar alguma coisa totalmente diferente, totalmente revolucionária! E isso é o que eu acho ser o professor, porque nós estamos, também, nesse momento assim, de tecnologia, de revolução, meu deus, as coisas se mexem! As coisas falam! As coisas tem cor! E aí eu vou lá dizer pra eles que “um produto notável tem que pegar o quadrado do primeiro vezes o quadrado do segundo?” O que que é? Vai te catar com isso aí"...Então eles precisam desse elemento surpresa, tu tem que ser surpreendente a cada dia. Um dia com uma aula interdisciplinar, no outro , extremamente tradicional. Quando eles já estão de saco cheio tu vem de novo com uma revolução assim, que eles ficam: "Mas como assim, esse cara é louco? Ontem ele tava assim , uma aula brocha daquela e hoje ele me vem com tudo isso aí!" Tu tem que deixar eles sempre esperando de uma forma que não vai ser sempre a mesma coisa. Vai ser sempre uma novidade, sempre algo novo. Um dia tu leva, simplesmente manda eles fazerem fila e leva eles pra aula de informática porque tu preparou uma coisa fantástica lá e eles não fazem idéia que tão indo ver aquela coisa fantástica. No outro dia tu leva pra sala do vídeo. Chega lá, tu tá trabalhando um vídeo que fala de valores, do bulling. Mas tu é da matemática, cara, o que que tu quer? Não, mas antes disso eu sou um educador, eu sou da educação. Tu vai conversar com eles, bater um papo sobre as agressões que estão acontecendo...Isso pra mim é ser educador.

CA- O professor então tem que ser esse tipo então...
César- O professor tem que ser isso, alguém dinâmico, surpreendente, criativo. É um casamento eu acho, tu nunca pode deixar cair na mesmice, na rotina. Eu sou um garimpeiro...

CA- Um “garimpeiro da educação”. Eu adorei isso. Então um professor deve ser um garimpeiro, tu definiria um professor assim, hoje?
César- Sim, concordo, é um “garimpeiro da educação”. E também ele tem que ser inovador...Eu acho que isso é a palavra, tu tem que ter opção. Tu tá indo lá pelo salário? Que é o que eu vejo, 90%.Os que estão lá tentam te desmotivar de alguma forma. Quando os meus colegas souberam que eu vou pagar o passeio, porque a escola não me dá subsidio nenhum. Pra eu organizar essa gincana, todo material que eu preciso eu tenho que tirar do meu bolso. Qualquer atividade que eu queira fazer e tenha que ter uma premiação, porque eu concordo com a premiação. Eu acho assim, que tudo na vida é um esforço, tudo na vida tu faz por alguma recompensa, tu trabalha por uma recompensa, tu estuda por uma recompensa, é dessa forma que funciona.então os meus colegas ficaram assim surpresos, porque eu me propus a pagar o tal do passeio, que é na quinta da estância, num hotel fazenda, cada um vai custar 51 reais. Eu tenho duas turmas. Mas eu prometi e eu vou levar. Porque eles se empenharam, eles se esforçaram e eles mereceram. Eles vão passar o dia inteiro no hotel fazenda, com café da manhã, almoço e várias atrações, que também é educação. E a escola não me dá nada.

CA- Mas e essa coisa de dar alguma coisa em troca, não é meio perigoso? Os alunos vão começar a fazer as coisas só porque tem uma recompensa e não porque...é importante...entendeu?
César- Entendi. É o mesmo questionamento dos meus colegas. E eu também tive muito essa preocupação, mas eu quis arriscar.E eu vi que não, não é só isso. Porque assim, ó: -“Tá professor, agora vamos fazer uma atividade daquelas, mas pode ser fora da gincana, não precisa valer nada, mas faz uma daquelas que é legal, trás uma charada daquelas que tu trouxe que é divertido.” Eles conseguiram ter interesse por aquilo ali. Eu vejo neles essa diferença. E assim, eu vejo que 90% deles falam que mudou o interesse deles, a vontade de vir pra escola, a vontade de aprender , por causa das aulas de matemática e principalmente da “gincana da matemática”....

CA- É o que falta pro professor então... a educação tem solução? A educação pública tem solução? As pessoas costumam dizer que o colégio particular tem mais qualidade....
César- É a vontade...Os professores são os mesmos, só que lá no colégio particular, por exemplo, eles conseguem utilizar a interdisciplinaridade, porque que no público eles não aplicam a mesma coisa, né? Mas ao mesmo tempo eu vejo assim, concordo, tem  mais qualidade, mas também porque? Porque aquela criança que está no colégio particular tem um nível social diferente, tem uma cultura diferente ou convive com uma cultura diferente, uma cultura que também proporciona uma inteligência ou um grau de conhecimento maior....é uma realidade totalmente diferente...eu acredito que se deve a isso. Eu vejo também por aquela comunidade lá, que é extremamente carente mas a escola proporciona a eles essa novidade e essa vontade de aprender. Já nos particulares eu acho que aquilo que o professor vai levar não é tão novidade assim, porque   tem todo um suporte da família por trás...então eu não acredito só na escola particular(a qualidade), eu acredito que é  da cultura da pessoa, das vivencias, o que na pedagogia chama de capital cultural.

A realização de um sonho:
Um outro mundo é possível.
CA-Educação, então, é tudo?
César - Pra mim educação é tudo.Educação é a base, é o pilar, é o inicio , é transformação, é o começo e pra mim, principalmente,  se resume assim: Amor.Como se estivesse se dedicando ao filho, a uma vida. É o futuro de alguém que está em jogo, é tudo, são as relações que essa “pessoinha” vai construir no seu futuro, vai ser o futuro dela. O professor, enquanto pessoa, enquanto profissional, tem o poder assim de, tanto de consertar alguém desestabilizado, desestruturado, mas como também tem o poder de afundar, degradar, destruir alguém que já está  desestabilizado ou está meio desequilibrado e acaba afundando de uma vez por todas. A educação é a arma de tudo, é a arma do futuro, é a arma da revolução.



sexta-feira, novembro 26, 2010

ENTREVISTA-César Pereira Trajano- Parte 1







 PARTE 1- Como tudo começou-

 Preliminar: Finalmente vou conseguir postar a primeira entrevista da “série folhas no tempo”, de acordo com minha proposta, lá de junho(ver post dia 03/06). Escolhi o meu ex-colega e amigo, César, para dar início a esta iniciativa que, antes de qualquer coisa, é também uma homenagem às pessoas que são tão importantes na nossa vida. Como ficou extensa e muito interessante, dividi em 4 partes, também, para fazer um pouco de suspense e ensejar o hábito das visitas dos meus caros leitores

Bons momentos de amizade desde 2006.


Conheci o césar na faculdade. Ele sentava lá no fundo da sala, chegou no segundo semestre e se enturmou com o pessoal de lá. Só depois de algum tempo, após alguns trabalhos em grupo o César apareceu no meu grupo, que eram sempre os mesmos. Logo depois de um trabalho em que ele se destacou bastante, deixando evidente o jeito descontraído, divertido e,  principalmente, inteligente, de interagir com os colegas e com o contexto das disciplinas, foi que passei a admirá-lo. Aos poucos fomos nos tornando amigos. Foi com o César que aprendi, entre outras, duas das coisas mais importantes da vida: A esperança e a perseverança. Lembro de quando sorteávamos um tema para algum trabalho e não tínhamos a mínima idéia de onde começar, o César sempre dizia: “ -Calma, eu também não sei onde achar isso, mas em algum lugar deve ter.” E assim íamos atrás do assunto, na biblioteca, na internet, enfim, saíamos a procurar e acabava que nossos trabalhos eram sempre excelentes. Depois fizemos algumas oficinas juntos por ocasião dos estágios e nosso entrosamento só aumentou. Começamos  a voltar da faculdade todos os dias juntos e, muitas vezes, quando um não ia o outro também não ia. Foi um tempo muito legal.Sofríamos as desventuras das disciplinas, dos conteúdos e das vésperas de provas. Por inúmeras vezes estivemos , ambos, prestes a trocar de curso ou a desistir(eu principalmente). Andávamos nos corredores, deprimidos, apavorados. Conversávamos no intervalo, no cafezinho, no bar e nos dávamos forças mútuas. Era engraçado, porque quando alguém via um de nós sozinho, logo perguntava pelo outro. Viramos referência mútua. Muita gente, às más línguas de preferência, julgavam que éramos casados. Mas o César, na verdade, era sim, um grande amigão. De fé, posso dizer, com todas as letras. Alguém que realmente honrou a palavra colega, amigo, companheiro. O César foi o único que ficou comigo até de baixo dágua. Na verdade, de baixo de tiroteio, isso sim, numa situação que jamais esquecerei. Vivíamos(a turma toda) um momento de crise e discórdia por ocasião da formatura. Uma comissão, formada para organizar os trâmites da colação de grau começou a impor a sua “ditadurazinha”, bem aos moldes daquela do ano que não terminou. Num contexto de manipulação e mesquinharia, enquanto toda a turma, ciente dos desmandos, calava odiosamente,o César resistia e lutava, bravamente, ao meu lado; E o César foi entregar o “manifesto” que escrevi, expondo os motivos para não ir à prova de toga; E o César ficou do meu lado, em casa, em protesto de solidariedade por uma colega que não poderia comparecer à famigerada “prova de toga”. O César, um verdadeiro professor. O único que, dentre os 31 formandos daquela turma de 2009, que realmente pode incorporar esse título, pode se orgulhar de levantar essa bandeira. Um cara que jamais entregaria um companheiro, acredito, mesmo se estivesse num “pau de arara”, Um dos poucos educadores da área da matemática que não ia apenas ensinar números aos seus alunos, mas também ensinar valores.
Uma noite qualquer no intervalo das aulas na faculdade, em 2007
 
E, assim, fui percebendo sua inteligência, comprometimento, dedicação e competência que só evoluiu cada vez mais. Fui admirando aquele profissional e aquela figura humana, extremamente simples, no jeito de ser, na sinceridade e na verdade com que se relacionava com todos e ao mesmo tempo uma pessoa genial em relação ao potencial interno, de pessoa, de “ser gente”, digamos, que ele tem dentro de si, de fazer com que nós, seres humanos incompletos e “inconclusos”, como ensinava Paulo Freire, pudéssemos nos completar, evoluir na integração e no aprendizado mútuo de todo dia, da convivência, da troca.

Hoje, o César dá aula na rede pública estadual, na cidade de Viamão, em dois colégios, em comunidades carentes, com realidades diferentes e está realizando tudo aquilo que tivemos oportunidade de desenvolver juntos na faculdade. É concursado no magistério e enfrenta as realidades do ensino público em nosso país, ainda, com a bravura de um educador que sonha e acredita que o mundo pode ser melhor, pela sua força, dedicação e comprometimento. Mesmo sozinho, mesmo contra toda a corrente daqueles acomodados que ditam o padrão e as normas da educação nesse nosso tempo. Mora com os dois filhos, também em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, capital do nosso Estado e vive feliz entre os familiares, a irmã Deise, também educadora e que, dentro em breve, irão, ambos, realizar um dos grandes sonhos em comum: Uma viagem de férias à Londres.

Nas próximas páginas, acompanhe os melhores momentos dessa entrevista...


quarta-feira, novembro 03, 2010

Assim escrevemos nossa história

Para quem não lê a revista Carta Capital eu afereço essa oportunidade postando , sempre que possível, alguns artigos aqui no blog. Principalmente os textos do Mino Carta, que é o diretor de redação da revista e que, na minha opinião, é um gênio das palavras, do pensamento e da existência intelectual de nosso país e de nosso tempo.

Eu estou feliz com esse momento e esse episódio histórico que estou vivendo. Faço minhas as palavras de Mino Carta que, magistralmente, capta as nossas sensações.
Segue as últimas do momento:
"Dilma Rousseff, a eleita, teve de enfrentar a campanha mais feroz contra um candidato à Presidência na história do Brasil.
Temos uma mulher na Presidência da República, primeira na história do Brasil. E que uma mulher chegue a tanto já é notícia extraordinária.


Levo em conta a preocupação do Datafolha a respeito da presença feminina no tablado eleitoral: refiro-me à pergunta específica contida na sua pesquisa, sempre aguardada com ansiedade pelo Jornal Nacional e até pelo Estadão. A julgar pelo resultado do pleito, Dilma Rousseff representa entre nós a vitória contra o velho preconceito pelo qual mulher só tem serventia por certos dotes que a natureza generosamente lhe conferiu.
Para CartaCapital a eleição de Dilma Rousseff representa coisas mais.
A maioria dos eleitores moveu-se pelas razões que nos levaram a apoiar a candidata de Lula desde o começo oficial da campanha. Em primeiro lugar, a continuidade venceu porque a nação consagra os oito anos de bom governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Inevitável foi o confronto com o governo anterior de Fernando Henrique Cardoso, cujo trunfo inicial, a estabilidade, ele próprio, príncipe dos sociólogos, conseguiu pôr em risco.
Depois de Getúlio Vargas, embora manchada a memória pelo seu tempo de ditador, Lula foi o único presidente que agiu guiado por um projeto de país.
Na opinião de CartaCapital, ele poderia ter sido às vezes mais ousado em política social, mesmo assim mereceu índices de popularidade nunca dantes navegados e seu governo passou a ser fator determinante do êxito da candidata.
A comparação com FHC envolve também a personalidade de cada qual. Por exemplo: o professor de sociologia é muito menos comunicativo do que o ex-metalúrgico, sem falar em carisma. Não se trata apenas de um dom natural, e sim da postura física e da qualidade da fala, capaz de transmitir eficazmente ideias e emoções. Lembraremos inúmeros discursos de Lula, de FHC nenhum.
 
Outra diversidade chama em causa a mídia nativa. Fascinada, sempre esteve ao lado de FHC, inclusive para lhe esconder as mazelas.
Vigorosa intérprete do ódio de classe em exclusivo proveito do privilégio, atravessou oito anos a alvejar o presidente mais amado da história pátria. Quando, ao dar as boas-vindas aos 900 convidados da festa da premiação das empresas e dos empresários mais admirados no Brasil, ousei dizer que o mensalão, como pagamento mensal a parlamentares, não foi provado para desconforto da mídia, certo setor da plateia esboçou um começo de vaia. Calou-se quando o colega Paulo Henrique Amorim ergueu-se ao grito de “Viva Mino!” Os fiéis da tucanagem não primam pela bravura.
Pois Dilma Rousseff teve de enfrentar esta mídia atucanada, a reeditar o udenismo de antanho em sintonia fina com seus heróis. Deram até para evocar o passado da jovem Dilma, “guerrilheira” e “terrorista”. Como de hábito, apelaram para a má-fé para explorar a ignorância de um povo que, infelizmente, ainda não conhece a sua história, e que não a conhece por obra e graça sinistra de uma minoria a sonhar com um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem demos.

Nos porões do regime dos gendarmes da chamada elite, Dilma Rousseff­ foi encarcerada e brutalmente torturada. Poderia ter sofrido o mesmo fim de Vlado Herzog, que os jornalistas não se esquecem de recordar todo ano.


Mas a hipocrisia da mídia não tem limites, com a contribuição da ferocidade que imperou na internet ao sabor da campanha de ódio nunca tão capilar e agressiva. E na moldura cabe à perfeição a questão do aborto, praticado à vontade pelas privilegiadas e, ao que se diz, pela própria esposa de José Serra, e negado às desvalidas.

Até o papa alemão a presidente recém-eleita teve de enfrentar. Ao se encontrar já nos momentos finais da campanha com um grupo de bispos nordestinos, Ratzinger convidou-os a orientar os cidadãos contra quem não respeita a vida, clara referência à questão que, lamentavelmente, invadiu as primeiras páginas, as capas, os noticiários da tevê. Parece até que Bento XVI não sabe que o Vaticano fica na Itália, onde o aborto foi descriminalizado há 40 anos."
Mino Carta.
 Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/ate-o-papa-apoia-serra