domingo, junho 27, 2010

Série "Folhas no Tempo" - Apresentação -

A série “Folhas no Tempo “vem abrir espaço para o “Tempo de expressão” dos meus amigos. Tem dois objetivos:
Fazer uma homenagem a nossa amizade, registrando o início, as peculiaridades, as coisas que aconteceram, que marcaram, que um dia existiram e ficaram, assim, como folhas no tempo. Outro, é abrir espaço para o pensamento, a opinião, a visão de mundo e de vida, em um determinado momento histórico da existência, daqueles com quem convivo...nas folhas do meu caderno...

Pretendo entrevistar todos os meus amigos e também todos aqueles que eu achar interessante e oportuno registrar. Não há prioridade nem exclusividade porque gosto dos meus amigos com real distinção, específica, ou seja, cada um tem algo de especial pra mim. Dessa forma, acredito que seja possível mostrar um pouco de cada amigo e, para quem ainda não se conhece, ter a oportunidade de descobrir, talvez, uma nova amizade.

Aguardem, pois todos serão convidados a participar, claro, se assim desejarem.

E o primeiro entrevistado é....

quinta-feira, junho 24, 2010

A boa dica...

Ultimamente tenho escutado a rádio Itapema FM, 102.3. Ao meio dia tem o programa “Talk Radio”, com a Katia Suman, apresentadora do programa Camarote na TV Com. É bem legal e entre uma música e outra, tem a crônica falada, onde todo dia tem um convidado específico daquele dia falando sobre algum assunto. Mas o que achei muito legal foi o dia em que ela colocou alguns trechos de diversas poesias no final de cada música. Mas teve uma que ela colocou toda e depois, no outro dia, teve que rodar de novo porque o pessoal pediu bis. E, realmente, eu que já estava há algum tempo em greve com a linha poética, já não tinha mais saco pra ler poesia, acabei me rendendo ao que ouvi nessa ocasião. O poeta chama-se Fabrício Corsaletti, um paulista, que escreveu o livro "Esquimó", sua última obra, na qual consta o poema “Seu Nome”. Na internet e no youtube podemos encontrar o moço lendo o seu poema que, pelo visto, vai lhe render uma boa vendagem do livro. Não sei como são as demais, porém, pelo agito que este provocou, acho que vale a pena comprar um exemplar. No mais, vale a pena curtir o que já está disponível para nós internautas...

Eu, fiquei impressionado...

Seu nome

Fabrício Corsalleti

Se eu tivesse um Bar ele teria seu nome; Se eu tivesse um barco ele teria seu nome, Se eu comprasse uma égua daria a ela seu nome; Minha cadela imaginaria tem o seu nome; Se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo seu nome; Se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu nome; Se for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o seu nome; Se encontrarem o meu corpo boiando no mar, no meu bolso haverá um bilhete com o seu nome; Se eu me suicidar, ao puxar o gatilho pensarei no seu nome; A primeira garota que beijei tinha o seu nome; Na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome; Antes de você tive três namoradas com o seu nome; Na rua há mulheres que parecem ter o seu nome; Na locadora que freqüento tem uma moça com o seu nome; Às vezes as nuvens quase formam o seu nome; Olhando as estrelas eu sempre consigo desenhar o seu nome; O ultimo verso do famoso poema de Eloá poderia muito bem ser o seu nome; Apolineris escreveu poemas a lua porque na loucura da guerra não conseguia lembrar o seu nome; Não entendo porque Chico Buarque não compôs uma musica para o seu nome; Se eu Fosse um travesti usaria o seu nome; Se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome; Minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome; Se eu tiver uma filha ela terá o seu nome; Minha senha do emai-l já foi o seu nome; Minha senha do banco é uma variação do seu nome; Tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem mãe ao invés do seu nome; Tenho pena dos seus pais porque em geral dizem filha ao invés do seu nome; Tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o termo ex-mulher ao seu nome; Tenho inveja do Oficial de Registro que datilografou pela primeira vez o seu nome; Quando fico bêbado falo muito o seu nome; Quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o seu nome;

É difícil falar de você sem mencionar o seu nome; Uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome; Coelho tinha o seu nome, xícara tinha o seu nome, teleférico tinha o seu nome; No índice aromático da minha biografia, haverá milhares de ocorrências do seu nome; Na falta de corda para onde olha o luthier se não para o infinito do seu nome; Algumas professoras da USP seriam menos amargas se tivessem o seu nome; Detesto o trabalho porque me impede de concentrar no seu nome; Cabala é uma palavra linda, mas não chega aos pés do seu nome; No cabo da minha bengala gravarei o seu nome; Não posso ser Niilista enquanto existir o seu nome; Não posso ser Anarquista sem suplicar a declaração do seu nome; Não posso ser Comunista se tiver que compartilhar o seu nome; Não posso ser Fascista se não quero impor a outros o seu nome; Não posso ser capitalista se não desejo nada alem do seu nome; Quando eu saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome; Morei três anos num bairro que tinha o seu nome; Espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu nome; Espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a esquecer o seu nome; Espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome; Espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado ao ouvir o seu nome; A literatura não me interessa tanto quanto o seu nome; Quando a poesia é boa é como o seu nome; Quando a poesia é ruim tem algo do seu nome; Estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o seu nome; Estou escrevendo o 58º verso sobre o seu nome; Talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome; Por via das duvidas vou acabar o poema sem dizer explicitamente o seu nome."

sábado, junho 19, 2010

Vamos fazer mais "Xixi" no mundo...


“Creio que, em primeiro lugar, para falar da morte é preciso estar vivo. Os mortos não falam da morte, embora, em princípio, devessem saber tudo sobre ela. Mas é que nós julgamos, os vivos, que sabemos alguma coisa da morte dos outros. Não chegaremos a saber nada, nem sequer da nossa própria morte. Não creio que venhamos a saber alguma coisa da morte que tenha alguma utilidade para os vivos. Porque, mesmo que soubéssemos tudo a respeito dela, o simples fato de estarmos vivos nos impede de aprender algo que tenha que ver com a morte. Seria necessário uma demonstração racional sobre o que nos acontece. Não o que nos acontece na morte, o que nos acontece depois da morte.

Tenho isso, enfim, bastante claro. Desapareceu a matéria e com ela desapareceu tudo aquilo que, durante um tempo e consensualmente, achamos que não é matéria --que chamamos de espírito, alma ou coisa que o valha.

Às vezes pessoas vivem como uma espécie de enamoramento da morte. Levam a vida toda como que namorando a morte. Eu não pertenço a esse grupo. Não namoro a morte. Escrevi sobre ela. Terei escrito sobre a morte realmente? No fundo, acho que não. Porque, em primeiro lugar --e isso parece bastante óbvio--, escrever sobre a morte, no fundo, é escrever sobre a vida. Porque é desde o ponto de vista da vida que estamos a escrever sobre a morte.”

(José Saramago- Entrevista-Folha.uol- 2005-http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/753302-escrever-sobre-a-morte-e-escrever-sobre-a-vida-disse-saramago-em-2005.shtml)

Então, eis-me aqui, digníssimos, vivendo.

Quando pensei que o tema seria outro, mais uma vez nele permaneço. Não posso deixar de registrar mais essa perda triste, agora, para o mundo todo. Faço minhas as palavras do cineasta Fernando Meirelles ao comentar a morte do Saramago: “o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje". José Saramago, aos 87 anos, morreu em casa, após o café da manhã. Uma morte tranqüila, bonita. (desde quando morte é bonita, João???). É assim que, mais uma vez, desejo imitá-lo. Assim na vida, “Cadernos de Saramago”,na existência, quem sabe aos 70 anos, reconhecido como escritor, e no final, não pretendendo tanto tempo assim - mas quem saberá? - alguns anos mais me sejam permitidos...Um tempo curto, porém, de agora em diante, um tempo eterno. Não é preciso ler todas as obras, mas é imprescindível que assim se faça enquanto houver tempo, para que se saiba quem é( foi) Saramago. Eu li, talvez, os mais importantes, digamos. O Ensaio Sobre a Cegueira (muito antes do filme), o Ensaio Sobre a Lucidez e o Evangelho Segundo Jesus Cristo. Fica aqui a sugestão de ser lido nessa seqüência, Ensaio Sobre a Cegueira e após o “Sobre a Lucidez”. Com eles eu conheci o escritor. A inteligência,a perspicácia, a racionalidade, a maestria em nos fazer enxergar as dimensões de nossa vida, a mesquinhez dos comportamentos humanos nos mais diversos momentos e condições de nossas vidas, enfim, narrados numa obra de ficção, mas que tanto se assemelha as nossas vidinhas cotidianas e que muito nos “reflete” nos contextos simbólicos ali criados. Todos devemos ler o Ensaio Sobre a Cegueira, pelo menos, uma vez na vida. Então, em seguida, fui pesquisar mais sobre o escritor e li muitas entrevistas sobre ele e dele próprio. Foi bem na época do lançamento da última obra "Caim", que teve muita repercussão, inclusive levantando, novamente, a questão do escritor e sua divergência com a igreja católica. O que me tornou, por conta disso, mais um admirador desse genial escritor. Peguei novamente o Evangelho, que já tinha tentado ler antes, mas dessa vez, conhecendo o autor, ciente da pitada irônica e realista de suas palavras, consegui navegar na obra e me identificar com ela, ou seja, fazer o que todos nós devíamos já ter feito antes. Refletir, refletir e ponderar, sim, concretamente, drasticamente, sobre as histórias da carochinha, as história fantasiosas que insistem em meter na nossa cabeça. E na cabeça de um recém nascido, que vem ao mundo, segundo a igreja católica apostólica romana, um mundo de Deus, único, onipotente, misericordioso, bondoso, mas que serve, quando bem satisfaz, para meter-nos medo, quando fazemos "xixi" fora do penico, como dizem nossas mães. Saramago fazia bastante xixi...e agora...agora é preciso que apareçam cada vez mais "saramagos" nesse mundo!!! Saramago, que foi chamado “joio” entre o trigo pela igreja católica, em nota após o seu falecimento(quanta desfasatez de Vossa Reverendíssima!!!), deixou-nos esse legado. É preciso chutar, não o balde agora, mas esse penico que é a repressão e imposição religiosa desse mundo. Já viram como, AINDA, se mata e se faz guerra em nome de um deus, de uma religião, de uma igreja, de uma seita??? O ser humano só é livre, belo, verdadeiramente humano, quando se conhece por inteiro, se sabe e se entende humano, na sua finitude, nas suas potencialidades e nas suas limitações. E aí se respeita. E aí se encanta, consigo, com a vida e com o outro. E isso só é possível quando ele pode ousar. Ousar, acima de qualquer coisa, questionar. Questionar a si e a sua volta, o seu mundo. O outro.  Permanentemente, peremptoriamente. E isso só é possível quando não temos alguém nos manipulando como se fossemos marionetes no nosso próprio tempo de existir. O Trigo, meu amigos, há muito já apodreceu. Se, lutar por um mundo mais justo e humano, viver e usar da sua palavra (palavra que é poder!) para gritar contra toda injustiça debaixo desse sol( o que igreja nem religião nenhuma nunca fez) se indignar contra o mal caratismo, a corrupção, a safadeza, a miséria, a pobreza, a exploração e a covardia e denunciá-la, ao mundo, claramente ou por sua obra literária, se tudo isso é o joio, meus amigos, o mundo precisa, urgentemente, de mais joio ou o nome que queiram a esse comportamento empregar. Saramago é isso, e muito mais.Óbvio. Leiam, investiguem, informem-se e tirem suas próprias conclusões. Eu tenho as minhas.
Ficamos assim, mais um dia, mais um adeus.
Precisamos, cada vez mais, fazer muito xixi nesse mundo.

Sugestões:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago

Meu presente de aniversário em outubro ou no natal: Livro "Caim"- José Saramago.