quinta-feira, outubro 15, 2009

Ao Mestre, com carinho

Acabo de ler, hoje, 14 de outubro, na zero hora do dia, uma matéria muito preocupante e triste. Estampada na página 35, uma história da série “Escolas Conflagradas”, que o jornal vem publicando nas últimas semanas, apresenta o fim trágico que resultou a vida de um professor, dedicado, corajoso e apaixonado. O professor Ozório Alceu Felini, com apenas 45 anos foi esfaqueado por um jovem, em plena escola na qual não só trabalhava, por que muitos “apenas trabalham ou fingem que trabalham”, mas literalmente na qual se “doava”, como podemos perceber do depoimento de sua esposa e filhas no sentido de tentar persuadi-lo à preocupar-se mais com a família do que com os seus alunos. Vale registrar aqui sua resposta: “ A melhor forma de proteger as nossas filhas é melhorando a sociedade”. No dia 17 de março, deste ano!!, no exercício de sua MISSÃO, foi atingido brutalmente, “banalmente” por um aluno da escola Estadual Bernardina Rodrigues Padilha, em Vacaria, ao tentar separar uma briga de duas meninas. No dia 26 de março morreu no hospital em decorrência desse fato. Simples fato, que só fiquei sabendo hoje, 7 meses depois, isto porque foi publicado no jornal.Quantos mais, por esses interiores, não só aqui do sul, mas de todo esse enorme país, quantos mais, tiveram esse fim e quantos mais ainda terão??? Tem uma música nativista que diz “todos os heróis estão mortos”. E é verdade. Quem quer ser herói? Quem se candidata? Eu tentei ser herói um dia, admito. Foi há bem pouco tempo atrás. Em março, ainda, quando o professor Ozório levava a facada certeira, no destino da sua existência. Parece que até a providência não quer saber mais de heróis. Ou não que saber mais de alguém querendo melhorar a sociedade. Nessa época, recém formado, eu também sonhava melhorar a sociedade. E, sinceramente, não o fazia para sair nos jornais, para ganhar glória e notoriedade. Realmente, eu acreditava que poderia, que deveria. Eu acreditava no mesmo sonho do professor Ozório. Firmemente, eu acreditava, juro. Por isso essa reportagem me deixou mais triste no dia de hoje. Apenas mais uma tristeza a figurar no rol das tantas que vamos acumulando. Mas eu “joguei a toalha”, “chutei o balde”. Nem bem comecei, dirão alguns. Mas eu não sou cego, nem surdo. O que eu vejo, ouço, presencio, já é o suficiente. Só não digo que as coisas serão assim para sempre porque elas não eram assim, mas ficaram. Então, talvez, eu mude minha visão, no futuro.Mas o certo é que agora, no presente, é assim: Não quero ajudar quem não se ajuda, não quero fazer concurso para herói, não quero olhar para todos os lados e me ver sozinho. Não quero ser o último a apagar a luz. O que eu quero, o que eu preciso, é conhecer Paris antes de morrer. O professor Ozório, se não conheceu, jamais conhecerá. O mundo, também, jamais conhecerá o professor Ozório. Eu não quero ser o professor Ozório. Mas quando eu estiver lá na torre Eiffel, um dia, que é o meu sonho, ou diante do quadro da Monalisa, no Louvre, eu vou ter a certeza de que fiz a coisa certa, pelo professor Ozório.

Fui trabalhar e voltei. Quero terminar o capítulo do professor Ozório, mas não consigo. Pensei nisso o dia todo. Como as coisas são interessantes nesse mundo e ao mesmo tempo, tão estúpidas. Vivemos num mundo tão complicado, num tempo de coisas tão difíceis. Ano de 2009, século 21. Nosso país atravessando uma crise de ética na política, onde os senadores dessa república “chafurdam” na lama da imoralidade com coisa pública. Os deputados não ficam para trás. Aqui no sul, o governo do Estado, chefiado por uma governadora, está envolvido até os últimos fios de cabelo em escândalos e irregularidades desde o início do mandato. A assembléia legislativa se ocupa de comissões e discussões intermináveis e inúteis entre o governo e oposição. E por fim, no fim dos confins deste vasto universo, numa cidade chamada Vacaria, nesse exato momento, alguém com princípios, idéias, utopias, sonhos, desejos, fé, esperança, crença; Alguém que tinha certeza que o mundo poderia ser melhor, que a vida poderia ser diferente; Alguém que amava, que se doava; Nesse exato instante em que a noite se foi e, entrando madrugada adentro nos encontramos no outro dia, esse alguém, descansa em paz...

Feliz dia do Professor.

Alvorada, 15 de Outubro de 2009.
João Cláudio Amaral Marques

Um comentário:

  1. Que este blog seja um ótimo rascunho para toda a saga de best sellers que gerará!!!! Parabéns amiguinho!!!

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